A Origem Caipira
  
   
                                            
   O caipira por Vanda Catarina P. Donadio
 
      Caipira  é uma denominação tipicamente paulista. Nascida da primeira miscigenação entre o  branco e o índio. "Kaai 'pira" na língua indígena significa, o que vive  afastado, ("Kaa"-mato ) ( "Pir" corta mata ) e ( "pira"- peixe). Também o  cateretê, inicialmente uma dança religiosa indígena, na qual os Índios batiam  palmas, seguindo o ritmo da batida dos pés, deu origem a "catira". A catira  passou a ser um costume de caboclos, antigamente chamados de "cabolocos". Com o  avanço dos brancos em direção ao Mato Grosso e Paraná a cultura caipira foi  junto, levada principalmente pelos tropeiros. Hoje o termo "Caipira"  generalizou-se sendo para o citadino uma figura estereotipada. Mas esse ser  escorregadio e desconfiado por natureza, resiste às imposições vindas de fora.  Tem uma espécie de cultura independente, como a dos Índios. Infelizmente alguns  intelectuais passaram de modo errôneo a imagem do caipira. Hoje as festas  "caipiras" que se encontram nas cidades e nas escolas não passam de caricaturas  de uma realidade maior. Foi criada uma deturpação do que o povo brasileiro  possui de mais profundo e encantador em suas raízes. "A primeira mistura", a  pedra fundamental. O falar errado do caipira não é proposital. Permanecendo ele  afastado das cidades, mantém no seu dialeto, muito conhecimento, que o homem da  cidade já perdeu, com sua prosperidade aparente. O caipira conhece as horas  apenas olhando para o céu e vendo a posição do sol. Sabe se no dia seguinte virá  chuva ou não, pois conhece a fundo o mundo natural. Tem um chá para cada doença,  uma simpatia para cada tristeza... Para o citadino o caipira virou motivo de  divertimento, quando deveria ser o exemplo de amor à terra. Do antepassado Índio  ele herdou a familiaridade com a mata, o faro na caça, a arte das ervas, o  encantamento das lendas. Do branco a língua , costumes, crenças e a viola, que  acabou sendo um dos símbolos de sua resistência pacífica. Muitos são os ritmos  executados na viola, da valsa ao cateretê. Temos Cateretê baião; Chula polca;  Toada de reis: Cateretê- batuque, Landú, Toada; Pagode, etc. Apesar de parecer  um homem rústico, de evolução lenta, nas suas mãos calejadas ,ele mantém o  equilíbrio e a poesia da fusão duas etnias. E traduz seu sentimento acompanhado  da viola, companheira do peito, onde canta suas esperanças, tristezas e as  belezas do nosso país. A música rural, criativa , contrapõe-se aos modismos  vindos do exterior. Ainda é uma forma resistente de brasilidade, feita por um do  povo que conhece muito o chão do nosso país. Hoje estão querendo fazer uma fusão  cultural, a do "caipira" com o "country" americano. O que se vê, é gente  fantasiada de "cowboy", mas que não sabe sequer em qual fase da lua  estamos...Para homenagear o verdadeiro caipira paulista aqui temos uma música  bem conhecida:, cantada pelo jovem violeiro Rodrigo Matos, composição de Cacique  e Carreirinho;  
  
  Pescador e Catireiro ( Cacique e Pajé)
  
  Comprei uma mata virgem /Do coronel Bento Lira  
  Fiz um rancho de barrote /Amarrei com cipó cambira  
  Fiz na beira da lagoa /Só pra pescar traíra  
  Eu não me incomodo que me chamem de  caipira /No lugar que índio  canta 
  Muita gente admira /Canoa fiz de paineira  
  Varejão de guaruvira /A poita pesa uma arroba  
  Dois remos de sucupira /Se jogo a tarrafa n' água  
  Sozinho um homem não tira /Capivara é bicho arisco quando cai  
  Na minha mira /Puxo o arco e jogo a flecha  
  Lá no barranco revira /Eu sou grande pescador  
  também gosto de um catira/Quando eu entro num pagode  
  não tem quem não se admira /No repique da viola  
  Contente o povo delira /Se a tristeza está na festa eu chego  
  Ela se retira /Bato palma e bato o pé  
  Até as moça suspira /Muita gente não conhece  
  O canto da corruíra /Nem o sabe o gosto que tem  
  A pinga com sucupira /Morando lá na cidade  
  Não se come cambuquira /É por isso que eu gosto do sistema do  caipira 
  Pode até ficar de fogo /Ele não conta mentira  
 
  Vanda Catarina P.  Donadio é escritora infanto-juvenil, professora de idiomas e divulgadora cultura 
            
       
 Catequistas se moviam
pra provar o seu amor
aos nativos que temiam
o estranho invasor
mas ouvindo o som mavioso
de uma viola a soluçar
o selvagem, cauteloso,
espreitava, a escutar.
(Assim Nasceu o Cururu, Cap. Furtado( de Tiete sp. Sobrinho de Cornélio Pires e  Laureano,  de Sorocaba,hoje Votorantim. Compositor da famosa,Marvada Pinga)  
        O cururu nasceu, pois, dos cantos religiosos marcados por batidas de pé. Das  festas ao redor dos oratórios ganhou os terreiros, nos acontecimentos sociais  das fazendas e vilas. Nos anos 30, Mário de Andrade viajou pelo interior  paulista, nas suas pesquisas, e observou que no médio-Tietê cururu era desafio  improvisado, uma espécie de "combate poético" entre violeiros-cantadores,  iniciado com saudações aos santos. Dessa forma ele ainda resiste em cidades como  Piracicaba, Sorocaba, Tietê, Conchas e Itapetininga  a chamada região  cururueira do estado. Entre os cururueiros mais famosos do disco estão os irmãos  DIVINO chamados reis do cururu dupla de SOROCABA. Vieira e Vieirinha, de  Itajobi, SP (o segundo, morto em 1990), que brilharam nos anos 50.  
       O catira ou cateretê surgiu de uma dança indígena, o caateretê, também adotada  nos cultos católicos dos primórdios da colonização. As bases mais sólidas de seu  reino se estabeleceram em São Paulo e Minas Gerais. Com solos de viola e coro,  acompanhados de sapateado e palmeado, ele começa com uma moda de viola,  entremeada por solos, e evolui para uma coreografia simples mas bastante  rítmica. O clímax, no final, é o "recortado", com viola, coro, palmeados,  sapateados e muita animação. O catira é o coração de festas populares como as  Folias de Reis e as de São Gonçalo, . Entre grandes catireiros estão  VIEIRA E  VIEIRINHA chamados merecidamente de os reis da catira , Tonico e Tinoco de  São Manuel SP (o primeiro, morto em 1994), que registraram incontáveis sucessos  nos anos 40 e 50. Atualmente, entre os novos-caipiras, o mineiro Chico Lobo é  violeiro-cantador que domina essa velha arte.  
       O fandango, por sua vez, nasceu como dança vigorosa de tropeiros que o  aprenderam no extremo sul do país, com seus colegas uruguaios. Sofreu  modificações nas diversas regiões onde chegou e ainda é cultivado em alguns  núcleos por todo o país, como no litoral paranaense. Resultante da mistura da  música dos brancos da roça com a dos negros escravos, o calango firmou-se  especialmente no Rio de Janeiro rural e em Minas Gerais. Martinho da Vila,  fluminense de Duas Barras, compôs e gravou alguns bons calangos, puxados na  viola e com instrumentos percussivos.  
        A moda de viola se destaca
Entre tantos ritmos e estilos formados a partir das toadas, cantigas, viras,  canas-verdes, valsinhas e modinhas, trazidos pelos europeus, a moda de viola se  transformou na melhor expressão da música caipira. Com uma estrutura que permite  solos de viola e longos versos intercalados por refrões, com letras  quilométricas contando fatos históricos e acontecimentos marcantes da vida das  comunidades, ela ganhou vida independente do catira. E seduziu grandes  compositores, como os paulistas Teddy Vieira (de Buri) e Lourival dos Santos (de  Guaratinguetá), já falecidos, bastante ativos entre os anos 50 e 60. Atualmente,  os mineiros Zé Mulato e Cassiano estão entre os bons compositores e cantadores  de modas de viola.  
       À medida que o país se urbanizou e precisou da mão de obra barata do povo do  interior, levas de artistas caipiras e nordestinos também chegaram a São Paulo e  ao Rio de Janeiro para disputar seus palcos e estúdios. Assim, emboladas e cocos  se misturaram a maxixes, guarânias, rasqueados, chamamés, boleros, baladas e  rancheiras  e a tudo o que se ouvia no rádio nos anos 50 e nas fronteiras  do país. Todas essas matrizes sonoras formaram, com os gêneros caipiras  tradicionais, o que passou a ser sacralizado, na terminologia do mercado  fonográfico, como música "sertaneja". Mais sons entrariam nesse caldeirão: a  partir dos anos 60, o rock e a MPB dos festivais, e, nos 80, a country music  americana.  
        Entre os marcos das diversas fases da música que nasceu na roça e hoje, bastante  modificada, embala multidões de norte a sul do país, podemos destacar as  primeiras gravações de modas de viola e de outros gêneros caipiras por  violeiros-cantadores do interior paulista, em 1929  na série de discos  produzida por Cornélio Pires para a Columbia. Na década de 30, vieram os  sucessos de João Pacífico e Raul Torres, de Alvarenga e Ranchinho. Já Tonico e  Tinoco pontificaram a partir dos anos 40.  
        Vários estilos no saco
O apogeu dos caipiras foi nos 50: levas de duplas, especialmente do interior de  São Paulo, tiveram espaço nobre nas gravadoras e emissoras de rádio. O filão  caipira abrigou, nessa época, as guarânias de Cascatinha e Inhana e as  rancheiras mexicanas de Pedro Bento e Zé da Estrada. Entre 60 e 70, o  aparecimento de Sérgio Reis e Renato Teixeira  o primeiro saído da Jovem  Guarda, o outro dos festivais da TV Record  agitou o mundo sertanejo.  Exatamente em 1960 um genial violeiro do norte de Minas, Tião Carreiro,  inventava o pagode caipira, mistura de samba, coco e calango de roda (na  definição de outro tocador e conterrâneo, Téo Azevedo).  
       Nos anos 80 surgiram a dupla mineira Pena Branca e Xavantinho, adequando  sucessos da MPB à linguagem das violas, e Almir Sater, violeiro sofisticado, que  passeava entre as modas de viola e os blues. A guinada para a country music, com  a adoção de instrumentos eletrificados e a formação de grandes bandas deu-se a  partir do mega-sucesso de Chitãozinho e Xororó, em 1982. A eles, seguiram-se  outras duplas de sucesso, cada vez mais direcionadas para o romatismo pop  herdado da jovem guarda, como Leandro & Leonardo e Zezé Di Camargo & Luciano.  
      Os  anos 90 marcaram a convivência de dois segmentos musicais originários dos  gêneros rurais: o dos mencionados sertanejos-pop, voltado para grandes mercados  internacionais, e o dos novos-caipiras - músicos saídos das universidades,  dispostos a retrabalhar a música "raiz". Estes criaram um circuito de gravadoras  independentes e apresentações em teatros, entre São Paulo e Belo Horizonte, já  se irradiando até o Rio de Janeiro. Os detonadores desse movimento foram Renato  Teixeira e Almir Sater. Entre os nomes mais expressivos dessa nova geração de  instrumentistas-compositores estão os mineiros Roberto Corrêa, Ivan Vilela,  Pereira da Viola e Chico Lobo, e o paulista Miltinho Edilberto.  
  
   A Viola
              A viola é um  instrumento bem menor que o violão, com a cintura mais acentuada, e encordoado  de maneira diferente. Ela possui dez cordas, agrupadas duas a duas, sendo  algumas de aço e outras, revestidas de metal. A disposição das cordas, começando  de baixo para cima é: os dois primeiros pares afinados em uníssono; e os demais,  afinados em oitavas. Os nomes dados as cordas são de origem portuguesa,  existindo, no entanto, muita contradição nas informações prestadas pelos  violeiros, ou seja, a mesma corda recebendo vários nomes diferentes. Alguns  violeiros concordam em geral com os seguintes nomes: prima e contra Prima ou  primas - requinta e contra-requinta ou segundas - turina e contra-turina -  toeira e contra-toeira - canotilho e contra-canotilho. Para o terceiro par  encontramos ainda o nome verdegal, quando é usada linha de pesca no lugar da  corda de aço. As violas, geralmente, são feitas artesanalmente, e o tempo mínimo  para se fazer uma viola é de dez dias. 0 conhecido artesão Zé Côco do Riachão,  um dos raros "fabricadores" de violas e rabecas, utiliza uma cola feita de  banana do mato, também conhecida por sumaré. No tampo, ele usa a madeira  emburana de espinho; o braço é feito de cedro; o espelho, cravelhas e ornamentos  de caviúna (candeia); e a lateral feita de pinho. Entretanto, na maioria das  violas encontradas, a madeira utilizada para o tampo, foi o pinho que, de acordo  com os violeiros, é a de melhor sonoridade. 0 violeiro costuma dar à viola, os  mais variados nomes, assim temos a viola caipira, a viola cabocla, a viola  sertaneja, a viola de pinho, a viola de dez cordas, todas se referindo ao mesmo  instrumento. A viola com dez trastes é denominada também de meia-regra, e a com  trastes até na boca, de regra-inteira. No litoral paulista, foram encontradas,  violas com sete cordas, (dois pares e três singelas), nove cordas (quatro pares  e uma singela), e dez cordas (cinco pares), todas mantendo as cinco ordens de  cordas. É interessante observar que, numa das afinações da viola de sete cordas,  o quinto par foi afinado em intervalo de quinta, e o quarto, em uníssono.
  Pesquisa feita por Kilza  Stti, no início dos anos sessenta no litoral norte do Estado de São Paulo.
  
        Viola de Cocho
                   A        palavra cocho é empregada pelo homem do campo, referindo-se a uma tora de        madeira escavada, formando uma espécie de recipiente. A viola de cocho,        encontrada no estado de Mato Grosso, recebe este nome, porque é        confeccionada em um tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato de        uma viola, e escavado na parte que corresponderia à caixa de ressonância.        Neste cocho, no formato de viola é afixado um tampo, e em seguida, as        partes que caracterizam o instrumento, como o cavalete, o espelho, o        rastilho e as cravelhas. 0 seu comprimento é em torno de 70 cm por 25 cm,        com 10 cm de largura. Algumas violas possuem um pequeno furo circular no        tampo, medindo de 0,5 a 1 cm de diâmetro, outras não apresentam furo. A        viola sem furo no tampo é coisa recente, os violeiros antigos a preferem        com o furo, pois no dizer de um destes violeiros, "o furo é prá voz ficá        mais sorta, sem o furo a zoada fica presa". 0 braço da viola, juntamente        com a paieta (cravelha, é bem reduzido, medindo em torno de 25 cm. O cocho        é de muita utilidade no campo, e se presta, principalmente, à alimentar os        animais domésticos.
           A paieta,      geralmente, faz um ângulo bem acentuado com o corpo do instrumento, e possui      cinco ou seis furos. Este instrumento apresenta sempre cinco ordens de cor      das, com as cinco cordas singelas, ou com quatro singelas mais um par. Neste      caso, a terceira ordem consistiria de um par de cordas afinado em oitava.      Também é encontrada viola com seis furos na paieta, mas com apenas cinco      cravelhas. As madeiras utilizadas na sua construção são várias: para o corpo      do instrumento as preferidas são, a Ximbuva e o Sarã; para o tampo, Figueira      branca, e para as demais peças, o Cedro. A maioria das violas de cocho se      armam com cinco cordas singelas, quatro de tripa e uma de aço. Atualmente as      cordas de tripa estão sendo substituídas por linhas de pesca, devido a      proibição de caça na região. Estas, de acordo com os violeiros, são bem      inferiores às de tripa. A corda de aço tem o nome de "canotio", e tem,      aproximadamente, o mesmo calibre da quarta corda do violão. Os nomes das      cordas são os seguintes: prima, segunda ou contra, do meio ou terceira,      canotio e corda de cima. A preparação da tripa, para a confecção das cordas,      é muito rudimentar, para explicar o procedimento adotado, transcrevemos,      abaixo, os depoimentos de alguns violeiros, quando indagados sobre esse      assunto. - "Ah! isto é fácil, o sinhô mata o animá, tira a tripa, e limpa      bem por fora, vira ela e limpa bem por dentro, bem limpadinho. 0 sinhô marra      um fio dum lado e dôtro e troce bem trucido. Estira o fio duma árvore a otra,      põe um pesinho e pronto. Ele vai estirano... estirano, vai secano. Ah! fica      que... uma beieza!!!" -- Sr. Gregório José da Silva, 74 anos, cururueiro -      Poconé-MT, em 1983. - "Tira toda a tripa do Ouriço e começa a limpá com a      unha, tira a carne de cima ficano a pura tripa. Depois vira ela, prá limpá      por dentro e sair o limbo. Quando sai o limbo fica bem alvinho!, troce a      tripa bem trucida e estira ela. Deixa secá e pronto. 
          Aqui é      muito difícil prá gente ter a corda, no sítio tem muita!" -W- Sr. Edézio Paz      Rodrigues, 81 anos, cururueiro - Poconé-MT, em 1 953. ficano a pura tripa.      Depois vira ela, prá limpá por dentro e sair o limbo. Quando sai o limbo      fica bem alvinho!, troce a tripa bem trucida e estira ela. Deixa secá e      pronto. Aqui é muito difícil prá gente ter a corda, no sítio tem muita!" -W-      Sr. Edézio Paz Rodrigues, 81 anos, cururueiro - Poconé-MT, em 1 953.      
          - "A      tripa é o seguinte: Ocê pega a tripa e tira todo o ligume, toda massa,      depois de tirar toda massa, tem que rapá a carne que tem por dentro. Por      cima é uma pele muita fina... vira do avesso e vai rapano com muita ciência,      quase não é passado unha, só com a força do dedo. Ocê faz uma cumbuquinha de      foiha, coloca a tripa dentro e urina dentro, deixando passá uma meia hora,      uma hora, na urina, prá curtí, prá dá mais resistência. Então agora vai levá      num lugar de ispichá e, de acordo, com a grossura que ocê quer a corda, ocê      vai botá peso, uma pedrinha marrada num fio bem no meio dele. Se quer que      ela fica mais grossa, tem que botá peso menos, quer que ela fique mais fina,      tem que botá peso maió... tem que torcê que fica turcidinha. 0 Ouriço dá      doze cabeça de corda, dá prá encordoá uma viola, inda sobra..." - Sr. Manoel      Severino de Moraes, 54 anos, artesão de viola de cocho e cururueiro -      Cuiabá-MT, em 1 981. São vários os animais, cujas tripas são empregadas na      confecção de cordas, os preferidos são: 0 Ouriço-Cacheiro (Porco-Espinhol, o      Bugil (espécie de macaco, a Irara, o Macaco-Prego e Porca magra. A tripa de      gato, apesar de dar uma boa corda, não é usada, porque, numa roda de cururu,      se alguma viola estiver encordoada com cordas de tripa de gato, em pouco      tempo começa a surgir brigas entre os violeiros. A tripa de gado não é usada      porque é pouco resistente, "não guenta um toque". A do Macaco-Prego é muito      usada, mas somente na época em que ele não está comendo formigas. Os      violeiros afirmam que suas tripas ficam cheias de nós, provenientes das      picadas destas, quando engolidas vivas. A viola de cocho é um instrumento      bem primitivo, o número de pontos, ou trastos, varia entre dois a três.      Quando a viola possui três pontos, o intervalo entre eles é de semitom,      quando possui dois pontos, o primeiro dá o intervalo de um tom, e o segundo      de semitom. Os pontos são feitos de barbante, amarrados bem firmes, e      revestidos com cera de abelha, para que prendam melhor na madeira, no dizer      do violeiro "prá garrá, prá firmá, senão ele joga... tano seco ele joga". A      colagem das partes é feita usando o sumo da batata de sumaré (planta de      região úmida), ou, na fala desta, um grude feito da "paca" da piranha, uma      pequena tripa, também conhecida por bexiga natatória. A viola de cocho é      usada, principalmente, para o cururú e o siriri, funções bem populares em      Mato Grosso, mas também é usada para o rasqueado. Ela possui duas afinações      básicas, a afinação "canotio solto" e a afinação "canotio preso", sendo      muito semelhantes entre si. 
          Os      acordes mais usados são os de Tônica e Dominante com sétima e raramente o de      Sub-Dominante. No siriri, onde a Sub-Dominante é mais usada, a afinação      empregada é a de "canotio preso", para que esse acorde seja armado com      apenas dois dedos. O interessante é que essa mesma armação é muitas vezes      usada com a afinação "canotio solto".
                  As informações deste capítulo foram colhidas por E. Travasso e o autor, em      pesquisa do instituto Nacional do Folclore, FUNARTE,      em Mato Grosso.